- A triste realidade do surfista gaúcho
** Texto do Surfista Ki Fornari
Ano vai, ano vem e a realidade é sempre a mesma. Como animal esperando o abate, vive assim o surfista gaúcho. Envergonho-me como surfista gaúcho, em viver no único lugar do mundo onde existem armadilhas humanas dentro do mar.
Assim como as zonas urbanas do litoral gaúcho cresceram, cresceu também este esporte apaixonante. Já não são apenas meia dúzia de jovens alucinados de classe média-alta, já não são apenas pioneiros desbravando o desconhecido. São centenas, milhares...no Brasil inteiro: milhões!
Sem acompanhar o crescimento e a evolução dos meios de subsistência, a pesca no litoral gaúcho ainda é arcaica, e cada vez menos profissional. Como acontecia há 50 ou 100 anos atrás, cabos e redes de pesca riscam a paisagem da beira de praia, mesmo nas principais zonas urbanas do litoral. Pescadores truculentos ainda precisam da ajuda braçal na retirada das pesadas redes, a fim de recolher o que nelas vier. Sem barcos ou equipamentos modernos, relutam em desocupar áreas, agora populosas, pela insegurança e falta de condições que garantam melhorias na atividade pesqueira. Muitas famílias ainda dependem desta pesca, mas não há de se negar que, hoje em dia, o "Zé da Padaria" e o "João da Ferragem", ainda possuem como dote, um local privilegiado e a rede, herdados dos seus antepassados.
Como exemplos verídicos do "abandono" da orla gaúcha, estão as redes situadas em Cidreira, em pleno calçadão, projetado e construído, penso eu, para o lazer dos moradores e freqüentadores do município. Neste caso, o lazer se restringe no limite do calçadão com a areia branca da praia, pois, o banho de mar e a pratica de esportes nesta região - a mais populosa do município - é inviável, devido as armadilhas fixadas mar adentro.
Em Capão da Canoa, reduto de férias da governadora Yeda Crusius, cabos e redes de pesca encontram-se perfilados diante de novas construções, apartamentos de luxo que custam o olho da cara. Pois bem, o cidadão gasta milhares de reais em uma morada de lazer, e se vê proibido de aproveitar aquilo que figura como maior razão do seu investimento: o mar. A própria governadora do estado relatou certa vez, que segurou um destes cabos, a fim de comprovar o perigo que representa àqueles que se servem deste espaço público e divinal.
Lucas Boeira Dias, de apenas 22 anos de idade foi a 46ª vítima das redes de pesca no litoral do Rio Grande do Sul. Fisgado como peixe, deixa mais uma família dilacerada, privada e impossibilitada de qualquer reparação, mesmo que por justiça, pois, nestes casos, não há culpados, nunca houve.
Para os desinteressados, mais um acidente, para nós surfistas e familiares, mais uma tragédia anunciada. E para você?
fonte: Ki Fornari do Blog Swell/Clicrbs
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