quarta-feira, 23 de março de 2011

A fé que mata

Por Gabriel de Mello
Fotos Harleyson Almeida
Geralmente escapulários, crucifixos, patuás, figas, amuletos e muitos outros objetos são utilizados para simbolizar a fé, além de pedir proteção. Até aí tudo bem, é válido, é uma representação física de nossas crenças. Mas na manhã desta quinta-feira (17/03), o destino deixou um grupo de dez pessoas, entre elas surfistas experientes, policiais e bombeiros, surpresos ao verem um escapulário preso em uma bóia na ponta de uma rede de pesca a deriva, em frente à Plataforma de Atlântida.
Puxa, logo num equipamento que já tirou 49 vidas preciosas, enquanto se divertiam praticando seu esporte favorito. Muitas pessoas podem dizer que é uma visão alarmista, carregada de partidarismo. Sim, é uma visão alarmista e carregada de partidarismo pela vida.
Prezo pela vida, quero ver as famílias sorrindo, com lágrimas nos olhos apenas de alegria e orgulho. Não quero ver uma mãe chorando a morte de um filho jovem, que ainda tinha tantos desafios pela frente. Morrer é uma das únicas certezas que temos nesta vida, mas não assim, não de maneira brutal e sem chance alguma de defesa para o surfista.
Foram necessários 10 homens preparados e habilidosos para poder retirar a ponta de rede, a bóia e o cabo que estava localizada ao lado da Plataforma de Atlântida. Será que um surfista dentro da água, preso de surpresa em pleno desespero, teria chance? Não, sem chances.
A Federação Gaúcha de Surf recebeu a informação de que uma rede de pesca, ou parte dela, foi encontrada no local no final desta terça-feira (15/03). Imediatamente o presidente da FGSurf, Orlando Carvalho, acionou a Brigada Militar e providenciou um alerta para os surfistas não entrarem no mar naquele local. Já na manhã desta quinta-feira (17/03) em uma soma de esforços foi possível a retirada do artefato assassino de dentro da água. Nele, estava preso o escapulário que para alguns trás proteção. Que ironia.
Se você for surfar, por favor, não se esqueça de caminhar na beira da praia para se certificar de que não existe nenhum cabo fixo com uma rede na ponta. Além disso, respeite as áreas destinadas à prática da pesca e do surf. Respeite e conheça também as marés e correntes, além dos primeiros socorros, mesmo que neste caso eles sejam inúteis. Nunca surfe sozinho. São regras básicas que podem ajudar a salvar sua vida desta verdadeira pesca humana.
Não sou de maneira nenhuma contra os pescadores, nem quero acabar com seus sustentos. Ao contrário, sou a favor de um meio de vida que os remunere dignamente. Como a pesca embarcada, por exemplo, que pode render até 10 vezes mais que este tipo arcaico e assassino utilizado hoje.
Não tenho dúvida de que um pescador ao instalar sua rede, em momento algum, tem o objetivo de tirar a vida de um ser humano. Ao contrário, ele quer buscar seus pescados para sobreviver. Mas o que podemos observar nos últimos anos é que 49 pessoas morreram presas em cabos e redes somente na costa gaúcha. Claro, já ia me esquecendo, somente aqui do Rio Grande do Sul existem casos como este. Em nenhum outro lugar no mundo se tem registro de mortes brutais como esta.
É meus amigos, lhes apresento mais uma face da fé que mata...
Fonte: FGSurf
Gabriel de Mello
Assessoria de Comunicação da Federação Gaúcha de Surf
51 99429922 - @FGSurf – imprensafgsurf@gmail.com – www.fgsurf.com.br

Um comentário:

  1. O mar é de todos, mas o outside é nosso!

    Já que a pesca embarcada rende muito mais,
    o governo deveria tomar uma atidude definitiva para preservação da vida.
    O financiamento de embarcações para uma cooperativas de pescadores talvez possa ser uma solução e assim proibir de vez a pesca com rede fixa.

    Em um mar aberto como o nosso estamos a merce das correntes maritimas, alem de nos arrastar tambem nos leva a tranquilidade proporcionando sempre uma seção de surf tensa.

    49 mortes é um numero vergonhoso para o nosso estado, enquanto ouver rede fixa o perigo nos aguarda.

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