Ontem à noite na Audiência Pública da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia, no Plenário João Neves da Fontoura, na Assembléia Legislativa, pela primeira vez nos últimos anos, os surfistas tiveram uma grande representação.
Todas as outras reuniões sempre tiveram como norma, a presença minguada de surfistas, mas desta vez a galera se mobilizou e compareceu em grande número, demonstrando a união, a conscientização e o interesse em buscar a harmonia entre surfistas e pescadores.
A audiência presidida pelo Deputado Mano Changes, foi solicitada pelo Deputado Sandro Boka, representante da Frente Parlamentar, que juntamente com lideranças do Surf, Orlando Carvalho, Virgílio Matos e tantos outros vêm travando uma incansável luta pelo fim das mortes em redes de pesca.
Todos os segmentos envolvidos foram representados: Federação Gaúcha de Surf, Centro de Estudos Geológicos e Costeiros da UFRGS, Associação dos Pescadores de Cidreira, Associação dos Pescadores de Capão da Canoa, Brigada Militar, Ministério Público, Governo do Estado, entre outras entidades presentes, bem como pescadores, surfistas, simpatizantes e familiares de vítimas de redes de pesca.
Os ânimos começaram exaltados em ambas as partes, mas com a condução serena do Deputado Mano Changes e a conscientização de todos que a busca de uma solução se impõe sobre qualquer outra questão, os ânimos serenaram e os trabalhos puderam seguir seu curso com normalidade.
2. Aspectos Objetivos:
* A legislação atual esta equivocada, as áreas de surf e pesca da forma como foram demarcadas, acabaram por “fatiar” nosso litoral, isso resulta, por exemplo, em áreas de surf de 700m, ladeada por área de pesca de pequena extensão e novamente uma área de surf. Verdadeiras “armadilhas” que acabam em vez de proteger, vitimando as pessoas.
* Com isso, se busca uma reformulação nestas áreas, baseado em estudos científicos da CECO/UFRGS, que levou em conta aspectos como velocidade das correntes, marés, aspectos climáticos, dinâmica costeira do litoral norte, etc....estima-se que uma área de para ser considerada SEGURA para a prática de surf no nosso litoral não pode ter menos de 3.000m contínuos para sua prática.
* As novas demarcações com “áreas contínuas” de 3.000m para a prática do surf busca realocar as áreas e não diminuir a área de pesca. Esta nova alocação deverá ser alvo de discussão e negociação com as Entidades e os Municípios.
* Estabelecidas estas novas áreas, deverá ser providenciada uma sinalização adequada, pois hoje é impossível visualizar de dentro do mar as placas (quando existem e não estão destruídas) de sinalização. Totens, bóias e até mesmo pintura das casas dos salva-vidas com cores emblemáticas estão sendo estudadas.
* Fiscalização com efetividade pela Brigada Militar, telefone para Disk Denúncia e o fim da impunidade são outras questões importantes que o projeto traz.
Estes são os principais tópicos do Projeto Praia Segura, Surfe Legal e que ontem foi discutido na Audiência Pública.
3. Outros Aspectos:
Todos nós sabemos que a Harmonia deve ser buscada com equilíbrio e bom senso, ainda mais quando o valor que estamos tratando é o maior possível: A Vida Humana.
Todos nós sabemos que a Harmonia deve ser buscada com equilíbrio e bom senso, ainda mais quando o valor que estamos tratando é o maior possível: A Vida Humana.
Vejo com absoluta tristeza quando os ânimos se exaltam, muito embora compreenda que o lado emocional das pessoas envolvidas seja afetado, pois cada parte defende um ponto de vista subsidiado e envolvido na condição de sobrevivência, seja econômica ou da própria vida, literalmente.
Temos por obrigação, uma vez que somos seres civilizados e vivemos em uma sociedade que assim se autodenomina, em conduzir nossos atos dentro da retidão que nossas consciências impõem, e, na condução desta questão tão grave e sensível, não podemos nos afastar jamais do cerne de tudo que é a proteção a vida humana.
Foto: Thiago Aita
Como sabiamente foi dito no documentário Caiu na Rede é Gente, “ Esta história não tem um só lado, esta história não tem alguém que ganhe ...” não podemos cair no erro de rotular mocinhos e bandidos, (pescadores não são bandidos e surfistas não são “filhinhos de papai" e marginais, embora haja em ambos os grupos alguns elementos que se enquadram nestas definições, mas são uma minoria) sob pena de jamais conseguirmos a tão propalada harmonia.
Há que se entender que nossa luta, a luta dos surfistas, é por áreas seguras, demarcadas, fiscalizadas e respeitadas para a prática de esportes, tão somente isso.
Travamos uma luta, mas não uma guerra, e os pescadores, não são e jamais serão nossos inimigos. Os pescadores, em sua avassaladora maioria são pessoas de bem, que lutam bravamente para sustentar suas famílias de forma digna e correta, e merecem todo nosso respeito.
A eles, queremos dizer que não queremos a diminuição de suas áreas de pesca, mas a alocação de forma contínua de áreas de pesca, áreas de escape e áreas de surf. Novas opções de modalidades de pesca foram propostas como soluções alternativas e vem a se somar a pesca artesanal, soluções como pesca embarcada, colônias de peixes (nas lagoas) e outras ... São alternativas que vem a agregar o modelo existente.
O que nós combatemos, são as pessoas que colocam redes ilegais (pois não estão sinalizadas e muito menos identificadas) em áreas que não são de pesca. Estas pessoas, com certeza, não merecem ser chamadas de pescadores, porque de fato não o são, com o respeito que temos pela classe de pescadores jamais poderemos nominá-los como tal.
Foto: Thiago Aita
Estes, são criminosos, são assassinos e como tal devem ser tratados, porém também são covardes e jamais se conseguiu identificar um só destes canalhas que permanecem impunes. Eles jamais vão a uma Assembléia discutir formas de harmonizar as relações, se escondem no anonimato e dão risadas de todos nós, surfistas e pescadores honestos, que somos suas vítimas.
Sim, ambas as classes são vítimas destes homens sem escrúpulos, pois ao mesmo tempo em que envergonham e enlameiam a classe dos pescadores, matam com seus artefatos os surfistas que contra suas armadilhas nada podem fazer.
Esta é a nossa triste realidade.
Outro fato que me entristeceu enormemente, foi ontem ouvir uma referência que em determinado tipo de mar o surfista não deveria entrar e que ele deveria em primeiro lugar respeitar a sua própria vida. Confesso que fiquei chocado com esta afirmação que no seu âmago, nas suas entrelinhas diz que o próprio surfista é o culpado pela sua morte.
Refleti sobre esse fato e minha conclusão é que quem matou este surfista fomos todos nós !!!
Fomos nós, como sociedade, que demarcamos as áreas e assim, enviamos uma mensagem a todos: Podem surfar, pois esta área é segura.
Não, não é segura, é uma fatia de 700m que é um engodo, uma verdadeira armadilha.
Então somos todos nós cúmplices desta morte e de tantas outras.
E antes de qualquer insinuação em comentários descabidos, devemos todos nós, surfistas, pescadores, autoridades, sociedade, etc... pedir perdão as famílias, pelo nosso erro, pela nossa falta de visão, pela nossa omissão.
4. Respeito
Estas famílias merecem respeito, e ambas as partes, jamais podem esquecer isso e nem por um segundo ter qualquer deslize que macule a memória daqueles que se foram.
Então, gostaria de registrar o meu respeito e admiração pelos familiares das vítimas, que muito embora toda sua dor, que só quem perdeu um ente querido sabe dimensionar, embora toda esta dor profunda, eles ainda assim, permanecem firmes na luta.
Estes familiares poderiam estar em casa remoendo ou acomodados com sua dor, poderiam se inconformar com sua revolta, mas não, eles optaram por lutar, mesmo que muitas vezes tenham que se submeter a ouvir discursos vazios, a manobras diversionistas, a oportunistas, a “chás de banco”, a insinuações maldosas e a toda espécie de mofo que corroem nossas instituições, mesmo assim eles nos mostram que não devemos desistir jamais.
Estas famílias preferem que sua dor se transforme um algo útil a todos, que sua dor se transforme em luta, que sua dor se transforme em harmonia.
Tenham certeza que é este exemplo de força e de dignidade que vai realmente conduzir a todos a uma solução de harmonia e paz.
Seguimos em frente !!!
Foto: Thiago Aita
Estava lá dando essa força..
ResponderExcluirEstava lá na terça-feira dando essa força..
ResponderExcluirEstive presente... Acredito que dessa vez algo de concreto será feito, mas tem um detalhe... QUERO QUE TODAS ESSAS AÇÕES CHUEGUEM ATÉ AS PRAIAS MENORES, COMO QUINTÃO (onde surfo) E MAGISTÉRIO.
ResponderExcluirPodem ter certeza que eu e meus amigos (já que a ASQUI desapareceu) vamos lutar por isso, mas ao mesmo tempo não queremos ser esquecidos.
É issi ai Renatito participação é tudo.
ResponderExcluirAcredito que só há um jeito de ninguém ser esquecido, que é se fazer presente e atuante.
Qualquer coisa que precisarem, to a disposição.
Abraços.
Márcio.